República de
origem confusa - A nossa primeira proclamação da república foi assinada durante
o dia, na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro.
Na manhã de
15 de novembro de 1889, o marechal Deodoro da Fonseca parou em frente ao quartel-general
do império (na atual Avenida Presidente Vargas) e pediu para o vigia de plantão, que era
seu sobrinho, abrir o portão. O comandante do quartel-general havia começado a
trabalhar naquele dia: era o marechal Floriano Peixoto, que ganhou o apelido
midiático de “esfinge” por causa do seu silêncio diante dos acontecimentos.
Dentro do
quartel-general, o marechal Deodoro depôs o chefe do conselho de ministros,
Visconde de Ouro Preto, que lá se encontrava acastelado - o clima estava tenso,
devido a boatos sobre prisões de militares. Alguns dizem que Deodoro deu vivas
à monarquia; outros dizem que ele deu vivas à república. Parte da oficialidade
do Exército era republicana, por influência da filosofia positivista e, também,
por se espelharem nos sistemas republicanos argentino e uruguaio. O único civil
presente no golpe era Quintino Bocaiúva. Lopes Trovão alegou ter chegado
atrasado por causa do bonde.
O ex-primeiro-ministro
Visconde de Ouro Preto utilizou a linha de telégrafo para avisar
o imperador Pedro II, que relaxava em Petrópolis. Descuidado, o imperador falou
para ninguém se afobar: o conselho de ministros se reuniria à noite, assim que
ele descesse a serra até a capital, para escolher um novo primeiro-ministro...
e a vida continuaria com dantes.
Enquanto as
autoridades se recompunham, os soldados começaram a festejar a vitoriosa
deposição do primeiro-ministro, bebendo e batucando nos botequins e quiosques
do Campo de Santana (atual Praça da República). Animados, soldados e
republicanos deram início a uma marcha ébria pelas ruas do centro.
Os
republicanos, em palcos improvisados nas ruas do centro, pregavam contra o sistema
monárquico. É nesse ínterim que Machado de Assis impede a destruição de um
símbolo monárquico dentro da repartição onde trabalhava. Por causa desse gesto,
o patriarca da literatura brasileira acabou legado à história (dos vencedores) como
um “célebre monarquista”.
Em meio ao
agito, eis que aparece José do Patrocínio, o caso mais emblemático do
republicano “de última hora”, que acordou monarquista e foi dormir republicano.
Percebendo a agitação popular, o astuto paladino dos abolicionistas juntou-se
aos republicanos para ocupar a Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro, onde
ele era vereador.
José do Patrocínio
passou então a redigir a proclamação da república, que seria aprovada pelos
vereadores, sob forte pressão dos republicanos. Para fazer valer sua proclamação, ele alegou possuir jurisdição para legislar sobre todo o território
nacional. De fato, o município do Rio de Janeiro era a “Corte” (isto é, a
capital do império), condição esta que, no contexto monárquico da época, pressupunha
que suas leis deveriam ser aplicadas em todo o reino brasileiro. Posteriormente, José do Patrocínio explicou que sempre fora republicano, apesar de preferir uma monarquia "popular" a uma república oligárquica.
Apesar do
ineditismo da ação, não foi essa proclamação improvisada pelos vereadores
cariocas que motivou o gaúcho Deodoro da Fonseca a assinar, à noite, a sua proclamação
provisória da república. O grande problema para o último marechal da Guerra do
Paraguai era o boato de que Silveira Martins, seu grande inimigo no Rio Grande
do Sul, seria indicado como primeiro-ministro pelo imperador.
Aí já era
demais pro velho marechal. Com o apoio de ricos cafeicultores e de oficiais
militares, Deodoro decidiu “liderar” o pontapé inicial desta república. Tarde
da noite, um pequeno grupo redigiu, na casa do marechal, a declaração da
república provisória do Brasil.
Mal sabiam seus
patriarcas que esta república permaneceria “provisória” até sua oficialização
no plebiscito de 1993.